quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Inverno

Quando eu era criança o inverno era frio messsssssmo! Lembro-me de ir pra escola usando luvas, botas, ivanhoé (uma touca que cobria o pescoço também, uma coisa Idade Média), uniforme sobre o pijama. Era impossível escrever, pois os dedos ficavam duros e bastava parar um pouquinho de brincar para o corpo começar a tremer, batendo os dentes.
O leite não era de caixinha, vinha num saquinho que minha mãe colocava num suporte de plástico e cortava a ponta. O inverno era tão rigoroso que muitas vezes o leite congelava e não passava pelo buraco, obrigando um talho maior ou alguma paciência esperando descongelar.
Da torneira da cozinha não saía nada, pois a água havia congelado no cano.
Há dois quarteirões da minha casa havia nessa época a padaria mais próxima, que ficava na esquina da rua onde acontecia a feira de 4ª feira. Na marquise dessa padaria dormia um mendigo, daqueles conhecidos do bairro, que as pessoas “ajudam” pagando um rango, dando um dinheirinho, doando um cobertor. Num dia desses de frio intenso, meu pai chegou com a notícia que o coitado havia sido encontrado morto ali na calçada. O papelão, o cobertor e a pinga não foram capazes de aquecê-lo.
Fui!

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Primeiro dia de aula (e outras impressões)

Como eu faço aniversário em junho, entrei para a 1ª série com 6 anos e meio de idade. Eu não freqüentei o prezinho porque minha mãe tinha dó de me colocar na escola muito pequena.
Nada de mochila nova. O primeiro lugar onde carreguei meus cadernos e lápis foi numa pasta preta, de couro, que tinha sido usava pelo meu pai acredito que no trabalho (veja bem, não me lembro quando meu pai deixou de ser padeiro) e uma lancheira com formato de algum bicho (elefante ou porco) que trazia uma garrafinha de plástico bem safada (assim como a lancheira) e sempre vazava o suco.
Ao contrário de muitas crianças, não chorei no primeiro dia de aula. Muito pelo contrário! Me sentia orgulhosa por já saber escrever algumas palavras com letra de forma (meu pai havia me ensinado), mas acabei quebrando a cara. A professora deu um desenho de um palhacinho para colorirmos e pediu para colocarmos nosso nome com letras corridas E EU NÃO SABIA!! Foi aí que eu dei o primeiro pelé na escola: nunca devolvi o desenho por vergonha de não saber escrever. Mas agora lembrando do episódio, penso que eu não era a única, pois assim como eu muitos ali não haviam passado pelo pré-primário.
Ah, e também não posso esquecer de falar sobre a foto do boletim, que nessa época tinha várias páginas, parecia um livrinho. Minha mãe me levou para tirar a foto num dos vários estúdios que existiam no Largo do Rosário, no centro comercial do bairro da Penha. Mas quando eu entrei na sala, aqueles guarda-chuvas, luzes, câmera e ação... Jesus! abri a boca a chorar. Só depois que me acalmei é que foi possível fazer a bendita foto 3X4, em preto e branco, eu com aquele cabelo comprido e cacheado nas pontas e cara de choro. Até hoje não sei porque e nem do que eu tive medo, mas a foto ainda existe para comprovar que muitas lágrimas rolaram.
Fui!