domingo, 30 de maio de 2010

A praça


A rua em que eu morava era extensa. Lá no início tinha uma pedra enorme, quase na esquina e tinha uma coleguinha da escola que morava numa casa bem em frente a essa pedra.
Vindo na direção da minha casa, havia uma pracinha, onde meu pai sempre me levava pra brincar. Não tinha escorregador, gangorra, nada disso. Apenas bancos, grama, flores e árvores. Certa vez, eu estava brincando e pisei num enorme formigueiro. Lembro de ver uma das minhas pernas coberta de formigas até o joelho, embora não me lembre de ter sido picada por alguma delas.
Do outro lado de uma das esquinas dessa praça foi inaugurada uma padaria, no imóvel que anteriormente já havia sido uma pizzaria e churrascaria. Recordo que eu e meu pai ficávamos tentando adivinhar qual seria o nome da padaria, porque na fachada estava escrito “Pães e Doces ☆☆☆”.
Numa de suas árvores escrevi meu nome, mas nunca mais voltei lá pra conferir se ainda existe e também nem me lembro em qual das árvores fiz minha gravação.
Essa pracinha era um lugar onde aconteciam alguns eventos, digamos assim. A vacinação anti-rábica, por exemplo. Era o dia dos cães passarem nas suas coleiras em direção a tão temida injeção e dos gatos ariscos muitas vezes chegarem no local presos em carrinhos de feira.
Também era nessa praça que havia a distribuição dos doces no dia de São Cosme e São Damião. As crianças eram educadinhas. Ficavam na fila pacientemente aguardando sua vez e sem tumulto. Outros tempos.
Posso dizer que esse lugar me traz muitas recordações da infância e adolescência, porque também foi m frente a essa praça que morou senão a melhor, uma das melhores amigas que eu tive. Mas essa é uma história que eu vou contar mais pra frente, pois quando a conheci eu já tinha 18 anos, então vou continuar respeitando a cronologia dos fatos.
A praça ainda existe, assim como a padaria.
A pedra do início da rua foi implodida.
Muito bom ter tudo isso na memória.
Fui!

sexta-feira, 14 de maio de 2010

Amiguinhos - Parte I


Como eu morei durante mais de 20 anos na mesma casa, meus amigos de infância foram praticamente os mesmos da adolescência e com alguns mantenho contato até hoje.
Mas hoje vou falar de pessoas que nunca mais vi e se encontrei, não reconheci.
Minha casa era independente, mas do lado esquerdo havia uma casa geminada que era a primeira de uma vila. Não me lembro precisamente da quantidade de casinhas, mas várias famílias moravam lá. Eram os famosos “cômodo e cozinha”, sem sala e sem privacidade, por que as portas e janelas eram de frente umas das outras e os quintais separados por um muro baixinho. Entre a casa ao lado da minha e as demais, havia um terreno que servia para diversos fins: pátio, garagem, ateliê, depósito e afins. Havia muita rotatividade. Com raras exceções, ninguém morava ali por muito tempo; não me pergunte o motivo.
Certa vez, morou uma família de negros que eram os pais e três filhos. A única menina tinha a minha idade e logo se tornou minha amiga. Os meninos eram menores e um deles arrastava uma perna, acredito que por conta de paralisia infantil ou má formação mesmo, sei lá. Nós brincávamos muito, no terreno ou na casa deles. Os pais trabalhavam, então os três ficavam sozinhos em casa e minha amiguinha ficava responsável por eles e pela casa. E olha que ela tinha apenas uns 8 anos...
Eles eram evangélicos de alguma igreja pentecostal. Uma vez fui com eles num culto e na hora do louvor (que é quando todos os fiéis se ajoelham e fazem suas orações num volume além das expectativas) nós gritamos e rimos muito. Foi mais divertido do que propriamente um ato de fé. Por causa da religião, no dia de Cosme e Damião eles eram proibidos de ir até a pracinha que ficava perto de casa para pegar doces, mas a gente sempre dava um jeito e todo mundo acabava comendo.
Não me recordo quando, como ou por que eles se mudaram, mas a verdade é que nunca mais os vi e como não me lembro nem do nome deles, não há Orkut no mundo que me faça reencontrá-los.
Fui!

segunda-feira, 3 de maio de 2010

O rádio


Não sei por que eu acordava tão cedo, visto que nessa época eu nem estudava, mas o fato é que me lembro do cheiro do café fresquinho, do meu pai com o saquinho de leite e a bengala na mão (não, ele não se apoiava nela. Hoje em dia não se vê em qualquer padaria, mas não se comprava pão francês e sim bengala. Parecia uma baguete, só que mais gordinha. Se você nunca viu nem ouviu falar, joga no Google) e a voz inconfundível do locutor Zé Betio. Todas as mães dos anos 70 ouviam esse programa de rádio. Era uma coisa hilária, o sonoplasta colocava uns sons conforme a pedida, exemplo: “Joga água nele!!”, então ouvia-se o som de água atingindo alguma coisa, ou quando ele falava do homem gordo dormindo e roncando, tocava uma corneta. Era simplesmente o máximo em humor a partir das 5 da matina, tem noção? Ah, e com um detalhe: o volume era alto e em bom som, de todos os rádios da vizinhança.
Aliás, nessa época, havia vários programas de rádio, na freqüência AM, que faziam muito sucesso entre as donas de casa. E como todas gostavam de exagerar no volume, mesmo que a sua mãe não gostasse de um locutor, acabava ouvindo de qualquer jeito. Minha mãe por exemplo não suportava o Gil Gomes, que era um repórter policial sensacionalista (ainda vive será?) que narrava histórias de arrepiar os cabelos, com uma voz muito peculiar, porém havia alguma vizinha que não perdia um só programa dele e como sempre ouvia no volume muito alto, minha mãe acabava ouvindo sem querer. Havia também o Eli Correia (também não sei se ainda existe), que contava umas histórias tristes demais, trágicas, de fazer chorar até um psicopata, num programa chamado “Que saudade de você”.
A rádio da moda era a Rádio América, que já dava sinais dos novos tempos, com um formato mais moderno e radialistas menos dramáticos. Havia um programa que chamava Dose Dupla, onde o locutor executava duas vezes a mesma música, na seqüência. A gente ouvia tranqüilamente Jane e Herondi, Gretchen e Nahim (não conhece? Google neles!) e ainda torcia pra ouvir a vinheta que indicava que a música tocaria novamente (ai gente, para! Nós éramos crianças...).
Ah, outro dia eu falo do despertar das rádios FM e dos programas modernos, mas não menos bregas, que rolavam nos anos 80.
Fui!