quarta-feira, 30 de junho de 2010

Festa Junina

Vou me adiantar um pouco cronologicamente, pois antes que termine esse mês, preciso falar sobre festas juninas.

Lembro-me de uma única vez ter dançado quadrilha na escola e por falta de representantes masculinos, eu fui o noivo. Havia um lance de miss e mister caipirinha e as crianças levavam pra casa uns números, como se fosse uma rifa só que sem prêmios pra quem adquirisse, mas o aluno e a aluna que vendessem mais números eram os eleitos. Os brindes sorteados nas barracas da quermesse eram prendas arrecadadas por nós na vizinhança, normalmente enlatados, pacotes de macarrão e coisas do gênero. Mas das festas da escola eu não guardo muitas recordações, não sei por que.
Como eu morava próxima a uma igreja católica, nos finais de semana também havia festa durante todo o mês de junho. Essa quermesse eu freqüentei até a adolescência e sei que acontece até hoje. Havia as barracas de doces, churrasco (no pão ou no espeto), quentão, vinho quente e pinhão e de jogos, como a argola (que além da garrafa, tinha que encaixar num quadrado de madeira no chão; impossível!), a pescaria (onde TODOS os peixinhos eram o nº 1, ou seja, garantia de um brinde meia-boca) e aquele jogo do coelhinho que sai correndo do centro da barraca em direção a uma das casinhas com um nº na porta e a prenda sobre ela (uma vez ganhei um joguinho de dominó de plástico nessa do coelhinho). No salão social da paróquia rolava o bingo, mas o público era em grande parte formado por famílias, senhoras e adultos em geral. Além disso, havia a barraca do beijo (nunca fui... buáááááá), a cadeia (onde você mandava prender alguém por determinado tempo, por algum motivo bom ou ruim, nunca entendi direito) e o correio elegante (esqueça torpedos, MSN ou scraps). O máximo era estar numa rodinha com as amigas e receber aquele recadinho em forma de coração! Ficava todo mundo curioso em saber de quem veio o recado, muitas vezes anônimo. Mas quem recebia sabia de quem vinha ou acabava descobrindo no decorrer da festa. Muitos namoros surgiram aí. Ou ao menos uns beijinhos.
Fui!

segunda-feira, 21 de junho de 2010

O parquinho

No mesmo terreno onde se armavam os circos, também se montavam os parquinhos itinerantes. Sim, porque não havia Playland e o primeiro shopping mais próximo só iria aparecer na década de 1980.
Mas esqueça esses brinquedos modernos enclausurados num shopping. O lance era ao ar livre: passear no carrossel, pilotar um carrinho de bate-bate e girar loucamente no bicho-da-seda (joga no Google). Havia também aqueles aviõezinhos que sobem e descem presos num pedestal e a roda-gigante. Tudo isso acompanhado de um guaraná caçulinha, pipoca e maçã-do-amor.
Os parquinhos começavam a funcionar no finalzinho da tarde e acredito que o movimento permanecia até umas 10 horas da noite.
Ficávamos sabendo da chegada de um circo ou parquinho através de um carro que passava nas ruas anunciando datas, horários e atrações.
Não havia segurança porque no parque não havia portaria, nem entrada e saída. Os brinquedos já eram bem velhos naquela época (imaginem hoje!) e não posso garantir que havia manutenção deles. Mas a gente se divertia a beça e nem se preocupava com essas coisas.
Numa ocasião, um parquinho trouxe como atração a Monga. Sim, essa mesmo que vocês conhecem (quem nunca ouviu falar, por favor, vá ao Playcenter). Minha irmã e minhas primas resolveram encarar a transformação da bela em gorila e pasmem!, uma de minhas primas que vivia com bobs (Google novamente) gigantes nos cabelos, saiu correndo de medo e enroscou os benditos na corda de isolamento da saída da atração. O que pode ser pior: a Monga ou alguém sair com bob no cabelo? Assustadoras não?
É isso.
Fui!

domingo, 6 de junho de 2010

O circo

Não posso deixar de contar que do outro lado da rua onde existia a enorme pedra, era um terreno baldio (onde hoje há uma academia, residências, comércio e uma avenida). Mas era “O” terreno. E adivinhem o que acontecia por lá? Sim, parquinhos itinerantes e circos!
Os circos cheiravam a esterco e serragem. Como era de terra, então onde ficavam as arquibancadas (pensa na segurança? não havia nenhuma) o chão era coberto por serragem e o picadeiro era coberto por uma lona colorida (na maioria das vezes beeeeem desbotada). Os animais (sim, ainda era permitido) estavam sempre encardidos: lhamas, leões, cavalos, cachorrinhos e chimpanzés. Raramente aparecia algum tigre. Ah sim, e os elefantes! Esses estavam sempre subindo naquele minúsculo banquinho ou andando sobre aquelas mulheres lindas (?), vestidas com colants coloridos e cobertos por paetês. As habilidades dos animais eram normalmente as mesmas: cães jogavam futebol e pulavam entre arcos; chimpanzés pedalavam monociclos e participavam do show dos palhaços; leões saltavam nos pedestais ao som do chicote do domador e alguns destes se arriscavam em colocar a cabeça dentro da boca da fera (coragem!); lhamas e cavalos eram montados com graça pelas mulheres circenses. As crianças adoravam e os adultos também, ignorando os maus tratos sofridos pelos pobres animais, muitas vezes abandonados na velhice, sem a mínima consideração por seus anos de dedicação gratuita ao dono do circo.
Também havia o mágico, com aqueles truques mais manjados do mundo (mas que até hoje não consegui desvendar) e sua partner (leia-se auxiliar, mas eles usavam o termo em inglês para sugerir alguma sofisticação). Era aquilo de serrar a coitada ao meio, coloca-la numa caixa e faze-la desaparecer, o lenço que se transforma numa pombinha e aquela carta que ele mandava alguém da platéia escolher e depois adivinhava qual foi.
Os palhaços são os mesmos de hoje, com suas piadas que divertem ao menos as crianças. Carros que se desmontavam no palco, chapéus com flor que joga água e coisas do gênero.
E havia os equilibristas, atravessando de um lado a outro num fio, os malabaristas, com suas pilhas de pratos, os contorcionistas (mais raros), saindo de dentro de uma caixa onde caberia uma bola (exagerei um pouco) e os trapezistas, isso mesmo, os que saltam no ar a procura das mãos precisas do parceiro pendurado no outro trapézio. No final, eles saltavam sobre a rede de proteção e eram ovacionados.
Não posso deixar de falar sobre o bendito (ou maldito) globo da morte. Até hoje me fascina e aterroriza aqueles homens nas suas motos, acelerando em primeira marcha, nunca se esbarrando, num círculo eterno, o cheiro do óleo queimando. É lógico que nessa época nem se falava em proteção da coluna nem joelheira nem cotoveleira; o máximo era um capacete que acredito que se tratava do modelo mais barato, pois esses circos eram bem pobrezinhos.
Guloseimas e souvenirs sempre na entrada e na saída e às vezes no intervalo. Pipoca, algodão doce e maçã do amor, sem culpa. Chaveirinhos, bexigas e outros pequenos mimos, que nossos pais sempre fingiam não ver para não ter que comprar.
Levei meu filho ao circo, faz uns dois anos. Não tem mais cheiro de esterco, não tem mais serragem. Perdeu a graça.
Fui!