terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

Carnaval

Minha primeira lembrança de carnaval são os desfiles que aconteciam no bairro. Não me lembro se era uma noite só, mas havia alguns blocos que desfilavam pela avenida principal e muita gente comparecia. As crianças que iam assistir o desfile usavam as fantasias que os pais (no meu caso, a irmã) haviam comprado para brincarem em alguma matinê e a gente se divertia juntando com a mão os confetes e serpentinas que caiam no chão para jogar novamente pra cima.
Os espectadores ficavam nas calçadas, onde cordas eram colocadas de fora a fora, com a intenção de que ninguém invadisse o "espetáculo". Tinha gente que levava cadeira ou banquinho, improvisando uma arquibancada. Normalmente esse evento acontecia depois que as principais escolas de São Paulo já haviam se apresentado na Av.Tiradentes (sim, não existia Sambódromo ainda). E isso porque no final do desfile dos blocos e grêmios do bairro e adjacentes, havia uma canja com algumas escolas de samba da Zona Leste que traziam uma parte de todo o luxo, cores e a bateria que tanto encantava nossos olhos pela TV. Eu na verdade, me lembro somente da Nenê da Vila Matilde, mas acredito que outras agremiações também compareciam. Moços e velhos, crianças e adultos, todos saiam de casa a pé para prestigiar o desfile, onde, assim como meu irmão que tocava timba na bateria da Flor da Penha, havia gente da família exibindo seus dotes artísticos, fosse tocando, fosse cantando, fosse sambando. Não tinha perigo de arrastão não. No máximo algum bêbado mais exaltado, daqueles conhecidos no bairro e totalmente inofensivo. Era bem divertido. 
Fui!

segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

O retorno e o fim


Tudo que eu precisava para voltar a escrever era de um motivo... E esse motivo veio ontem, com uma notícia não muito agradável, mas que me fez recordar de um tempo onde as dores da alma eram poucas ou nulas; onde o mundo se mostrava sempre colorido. A morte? Essa palavra era só mais uma entre tantas que eu não conseguia compreender o sentido literal.
Me lembro até hoje da primeira pessoa morta que eu vi. Era uma vizinha, o velório aconteceu na sala de visitas da casa onde ela morava, bem na porta de entrada. Me lembro que era uma senhora bem velha (mas quando a gente é criança, qualquer pessoa de 50 anos é velha né?), os cabelos grisalhos muito compridos, o abdome protuberante... Não me lembro se fui sozinha ou acompanhando minha mãe. Mas eu fui de curiosa mesmo, pois não me lembro dela sem ser nessa ocasião, ou seja, não tinha contato com essa pessoa.
A segunda vez foi uma menina que era filha de uns amigos da família, criança como eu, que faleceu vítima de leucemia. Foi diferente, pois eu a conhecia, nós havíamos convivido juntas. Não me recordo de ter chorado ou sentido realmente a perda, mas me lembro até hoje de ter visto no canto dos olhos dela um início de lágrima sangrenta; e essa imagem eu nunca mais esqueci.
Conforme envelhecemos, essas perdas, dos nossos e dos outros, vão se tornando mais comuns, mas não menos dolorosas.
Avós, pais, tios, primos, irmãos, amigos...
Meu pai dizia sabiamente que nosso único propósito, o resultado final de toda a caminhada, a real certeza é somente essa: a morte. Mas ainda que saibamos que esse será o final de tudo e de todos, sempre somos pegos de calças curtas, totalmente despreparados, visivelmente desamparados.
É isso.