domingo, 25 de abril de 2010

A outra casa

Vivi durante 23 anos nesta casa e ainda hoje ela aparece nos meus sonhos.
Minhas lembranças de infância e adolescência foram todas vividas naquele endereço.
A casa nem era tão grande, mas tinha um quintal enorme, em declive. O muro ao redor e as paredes de fora da casa eram crespas, como um Chokito. Todos que passaram por lá, pelo menos uma vez arrancaram a pele do cotovelo nas pedras que saltavam das paredes.
Dormíamos eu, minha mãe e minha irmã num quarto e meu pai no porão, que era embaixo do quarto, mas a entrada não era dentro de casa, era um cômodo independente.
Porque meu pai e minha mãe não dormiam juntos? Sei lá, pergunte a eles!
Meu irmão a príncípio dormia com meu pai, mas logo ele se casou e meu pai ficou sozinho. Sabe que hoje me incomoda um pouco pensar que meu pai dormiu tantos anos num porão? Mas enfim, eu era criança e isso não me importava. Na adolescência também não fazia diferença, afinal, você conhece algum adolescente que se preocupe com alguma coisa que não seja com seu próprio mundinho e seus próprios dramas?
O quintal enorme se estendia pela lateral esquerda de um L, com a casa erguida à direita, geminada. Na frente da casa havia um jardim, onde minha cultivava várias flores, folhagens e uma arvorezinha de pequeno porte e ao lado dele estava a garagem, que só foi usada por convidados e vizinhos, pois nessa época ninguém da família tinha carro. Aliás, meu pai nem minha mãe nunca dirigiram. Minha irmã bem que tentou, mas foi infeliz no volante, enfiando o fusca de um namorado dela no muro de uma casa, na esquina da nossa rua. Minha mãe, num gesto de proteção e autoritarismo, rasgou a carteira de habilitação recém estreada e minha irmã nunca mais dirigiu. Meu irmão dirigia, mas foi ter um carro só depois que se casou. Eu só fui dirigir depois que meu filho nasceu.
O único banheiro era minúsculo e a descarga era daquelas que a caixa tem uma cordinha pra puxar (joga no google). A água do chuveiro estava sempre pelando, sei lá por que. Os demais cômodos eram todos do mesmo tamanho, não muito grandes, mas também não muito pequenos. O piso da sala era taco e havia vários soltos, por que quando chovia havia uma cascata que descia pela parede, sem contar as goteiras. O piso do quarto também era de madeira, o que facilitava o aparecimento de pulgas, por mais que minha mãe combatesse (se você for de uma geração posterior a minha, só conhece pulga de animais, mas nessa época elas viviam escondidas no vão dos pisos das casas, nos colchões e poltronas de cinema, e comumente eram trazidas da rua, pois pegavam carona nas nossas roupas e pulavam em outra vítima. Show de horror!).
Nada de luxo, tudo muito simples, mas vivi a metade da minha vida nesta casa, de onde trago muitas lembranças, algumas muito boas, poucas nem tanto, mas com certeza vocês estão para conhecer as melhores histórias!
Fui!

domingo, 11 de abril de 2010

Teatro


Hoje levei meu filho ao teatro para assistir "O Patinho Feio".
Acredito que quando eu era criança esse acesso fosse mais difícil, pois me lembro de ter ido apenas UMA vez ao teatro.
Minha irmã, que era normalmente quem me levava a esses programas culturais, me levou pra assistir "Romeu e Julieta", numa versão do Maurício de Souza, onde o casal tragicamente apaixonado chamavam-se Julieta Monicapuleto e Romeu Montéquio Cebolinha. Aliás, tudo na minha vida sempre girou em volta da personagem dentuça. Porém, meu nome não tem relação direta com a garotinha gorducha e sim com a filha do casal Eduardo e Sylvinha Araújo (joga no Google), dos quais minha irmã era fã.
Bem, mas voltando a peça, depois de assisti-la, ganhei o disco (não de pizza, de vinil) com as músicas da peça que vinha com um encarte com máscaras destacáveis dos personagens principais. Sinceramente, lembro mais do LP do que do espetáculo, talvez porque eu tenha ouvido as músicas exaustivamente, decorando todas.
Essa foi minha primeira vez no teatro, e talvez a única da infância. Nem de peças na escola eu me lembro. E olha que um dia já quis ser atriz, mas essa é outra história.
Fui!

domingo, 4 de abril de 2010

Domingos

"Domingo eu quero ver o domingo passar.
Domingo eu quero ver o domingo acabar." (Titãs)


O domingo sempre foi um dia estranho. É o final do final de semana, mas é o primeiro dia da semana... meio confuso isso né?
Pois bem. Acredito que quando somos crianças, tanto faz o dia da semana, principalmente quando ainda não se vai a escola. Todos os dias são bem parecidos.
Talvez a única diferença que se nota é que todos da casa estão presentes e pode-se acordar mais tarde. Depois vamos percebendo que o almoço de domingo é sempre mais tarde que o habitual e normalmente o prato do domingo é especial.
Minha irmã sempre fez faxina em casa aos sábados. Não sei porque minha mãe não fazia, se era ela quem ficava em casa todos os dias.
Meu irmão tinha muitos amigos e passava o final de semana com eles. Não na minha casa, porque dificilmente nossos amigos frequentaram nossa casa. Ah, porque meus pais não gostavam de música alta, cheiro de cigarro, garrafas de cerveja e palavrões. Então era difícil levar alguém em casa.
Como meus pais frequentavam a igreja presbiteriana (joga no google), todos os domingos eu acordava cedo pra ir a igreja com eles e participar da escola dominical. Meus irmãos? Nessa época eles nem iam mais.
Minha irmã caia na gandaia no sábado a noite e amanhecia na rua e meu irmão só chegava na hora do almoço (na verdade bem mais tarde), chapado normalmente. Aí era a hora que toda a oração da manhã não tinha valia, porque os ânimos se exaltavam. Todos porque ele chegava e a cozinha estava limpinha e aquilo não hora de chegar pra almoçar. Ele porque todo mundo pegava no seu pé e não o deixavam viver como ele queria.
O especial de domingo era panqueca, lasanha ou macarrão com frango, regados com refrigerante (é, refrigerante só no domingo e nada de coca-cola porque vicia). De vez em quando minha mãe resolvia tomar uma malzebier, mas só quando meu irmão não estava, porque ele não era de tomar UMA cerveja.
Depois assistíamos o programa Silvio Santos e o Fantástico (sim, como hoje ainda), simplesmente porque não havia outra alternativa.
E nada de tv até tarde! Amanhã é segunda-feira e todo mundo acorda cedo.
Fui!

sábado, 3 de abril de 2010

Páscoa

Não tenho nenhuma lembrança especial de páscoa na infância.
Desde que me lembro, sempre fui apaixonada por chocolate. Porém, num aniversário de sei lá quantos aninhos, uma amiga (ou vizinha) nossa me deu uma barra de chocolate de presente. Me senti tão ultrajada que disse pra ela "chocolate não é presente!". Quase matei minha mãe de vergonha, mas criança é assim mesmo, fala o que pensa.
Minha irmã diz que minha paixão se deu ainda quando eu era ainda nenenzinha, na ocasião em que ela, que gostava de chocolate mole, colocou um pedaço numa colher e aqueceu pra derreter. Quando ela viu eu me aproximando, esqueceu que tinha acabado de apagar o fogo e com gula e egoísmo, enfiou a colher na boca... Fritou a língua no metal e o céu da boca no chocolate. E eu com aquela carinha "que é isso, tatá?". O castigo serviu de lição e desde então todo chocolate que pintava em casa tinha minha parte reservada.
Meu filho também gosta de chocolate tanto quanto eu, culpa minha mesmo que sempre incentivei seu paladar a acostumar e gostar da iguaria. Infelizmente às vezes, quando o pedaço é pequeno ou trata-se de apenas um bombom, abro mão a seu favor. Mas confesso que muitas vezes me dói o coração ter que faze-lo.
Então é isso. Feliz Páscoa a todos!
Como eu costumo dizer: nascer é fácil, ressuscitar é que são elas.
Fui!