Vivi durante 23 anos nesta casa e ainda hoje ela aparece nos meus sonhos.
Minhas lembranças de infância e adolescência foram todas vividas naquele endereço.
A casa nem era tão grande, mas tinha um quintal enorme, em declive. O muro ao redor e as paredes de fora da casa eram crespas, como um Chokito. Todos que passaram por lá, pelo menos uma vez arrancaram a pele do cotovelo nas pedras que saltavam das paredes.
Dormíamos eu, minha mãe e minha irmã num quarto e meu pai no porão, que era embaixo do quarto, mas a entrada não era dentro de casa, era um cômodo independente.
Porque meu pai e minha mãe não dormiam juntos? Sei lá, pergunte a eles!
Meu irmão a príncípio dormia com meu pai, mas logo ele se casou e meu pai ficou sozinho. Sabe que hoje me incomoda um pouco pensar que meu pai dormiu tantos anos num porão? Mas enfim, eu era criança e isso não me importava. Na adolescência também não fazia diferença, afinal, você conhece algum adolescente que se preocupe com alguma coisa que não seja com seu próprio mundinho e seus próprios dramas?
O quintal enorme se estendia pela lateral esquerda de um L, com a casa erguida à direita, geminada. Na frente da casa havia um jardim, onde minha cultivava várias flores, folhagens e uma arvorezinha de pequeno porte e ao lado dele estava a garagem, que só foi usada por convidados e vizinhos, pois nessa época ninguém da família tinha carro. Aliás, meu pai nem minha mãe nunca dirigiram. Minha irmã bem que tentou, mas foi infeliz no volante, enfiando o fusca de um namorado dela no muro de uma casa, na esquina da nossa rua. Minha mãe, num gesto de proteção e autoritarismo, rasgou a carteira de habilitação recém estreada e minha irmã nunca mais dirigiu. Meu irmão dirigia, mas foi ter um carro só depois que se casou. Eu só fui dirigir depois que meu filho nasceu.
O único banheiro era minúsculo e a descarga era daquelas que a caixa tem uma cordinha pra puxar (joga no google). A água do chuveiro estava sempre pelando, sei lá por que. Os demais cômodos eram todos do mesmo tamanho, não muito grandes, mas também não muito pequenos. O piso da sala era taco e havia vários soltos, por que quando chovia havia uma cascata que descia pela parede, sem contar as goteiras. O piso do quarto também era de madeira, o que facilitava o aparecimento de pulgas, por mais que minha mãe combatesse (se você for de uma geração posterior a minha, só conhece pulga de animais, mas nessa época elas viviam escondidas no vão dos pisos das casas, nos colchões e poltronas de cinema, e comumente eram trazidas da rua, pois pegavam carona nas nossas roupas e pulavam em outra vítima. Show de horror!).
Nada de luxo, tudo muito simples, mas vivi a metade da minha vida nesta casa, de onde trago muitas lembranças, algumas muito boas, poucas nem tanto, mas com certeza vocês estão para conhecer as melhores histórias!
Fui!
domingo, 25 de abril de 2010
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