domingo, 6 de junho de 2010

O circo

Não posso deixar de contar que do outro lado da rua onde existia a enorme pedra, era um terreno baldio (onde hoje há uma academia, residências, comércio e uma avenida). Mas era “O” terreno. E adivinhem o que acontecia por lá? Sim, parquinhos itinerantes e circos!
Os circos cheiravam a esterco e serragem. Como era de terra, então onde ficavam as arquibancadas (pensa na segurança? não havia nenhuma) o chão era coberto por serragem e o picadeiro era coberto por uma lona colorida (na maioria das vezes beeeeem desbotada). Os animais (sim, ainda era permitido) estavam sempre encardidos: lhamas, leões, cavalos, cachorrinhos e chimpanzés. Raramente aparecia algum tigre. Ah sim, e os elefantes! Esses estavam sempre subindo naquele minúsculo banquinho ou andando sobre aquelas mulheres lindas (?), vestidas com colants coloridos e cobertos por paetês. As habilidades dos animais eram normalmente as mesmas: cães jogavam futebol e pulavam entre arcos; chimpanzés pedalavam monociclos e participavam do show dos palhaços; leões saltavam nos pedestais ao som do chicote do domador e alguns destes se arriscavam em colocar a cabeça dentro da boca da fera (coragem!); lhamas e cavalos eram montados com graça pelas mulheres circenses. As crianças adoravam e os adultos também, ignorando os maus tratos sofridos pelos pobres animais, muitas vezes abandonados na velhice, sem a mínima consideração por seus anos de dedicação gratuita ao dono do circo.
Também havia o mágico, com aqueles truques mais manjados do mundo (mas que até hoje não consegui desvendar) e sua partner (leia-se auxiliar, mas eles usavam o termo em inglês para sugerir alguma sofisticação). Era aquilo de serrar a coitada ao meio, coloca-la numa caixa e faze-la desaparecer, o lenço que se transforma numa pombinha e aquela carta que ele mandava alguém da platéia escolher e depois adivinhava qual foi.
Os palhaços são os mesmos de hoje, com suas piadas que divertem ao menos as crianças. Carros que se desmontavam no palco, chapéus com flor que joga água e coisas do gênero.
E havia os equilibristas, atravessando de um lado a outro num fio, os malabaristas, com suas pilhas de pratos, os contorcionistas (mais raros), saindo de dentro de uma caixa onde caberia uma bola (exagerei um pouco) e os trapezistas, isso mesmo, os que saltam no ar a procura das mãos precisas do parceiro pendurado no outro trapézio. No final, eles saltavam sobre a rede de proteção e eram ovacionados.
Não posso deixar de falar sobre o bendito (ou maldito) globo da morte. Até hoje me fascina e aterroriza aqueles homens nas suas motos, acelerando em primeira marcha, nunca se esbarrando, num círculo eterno, o cheiro do óleo queimando. É lógico que nessa época nem se falava em proteção da coluna nem joelheira nem cotoveleira; o máximo era um capacete que acredito que se tratava do modelo mais barato, pois esses circos eram bem pobrezinhos.
Guloseimas e souvenirs sempre na entrada e na saída e às vezes no intervalo. Pipoca, algodão doce e maçã do amor, sem culpa. Chaveirinhos, bexigas e outros pequenos mimos, que nossos pais sempre fingiam não ver para não ter que comprar.
Levei meu filho ao circo, faz uns dois anos. Não tem mais cheiro de esterco, não tem mais serragem. Perdeu a graça.
Fui!

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