sexta-feira, 19 de março de 2010

O Cuco

Quando ainda morávamos nessa primeira casa que me recordo, meu pai trabalhava como padeiro à noite, num tempo em que não havia "pão quente a toda hora" e os fornos eram a lenha. Era ele quem preparava a primeira fornada que sairia pela manhã, sendo assim, chegava em casa por volta das 5 ou 6 da manhã (veja bem, acredito que era nesse horário, porque nessa época eu nem me ligava em relógio) com o pão quentinho e o leite (de saquinho).
Depois do café ele dormia até a hora do almoço e depois era todo meu!
Meu pai mancava de uma perna, devido uma fratura mal engessada e seus passos sempre foram inconfundívieis.
Ele tinha uma letra linda, bem desenhada, daquelas que a gente só vê em envelope de convite de casamento, saca? Gostava muito de ler e não tinha restrições: enciclopédias, revistas, jornais, bula de remédio (somos parecidos nesse ponto). Ah, mas seu maior prazer era a matemática.  Acredita que ele ficava inventando contas de multiplicar e dividir com 8, 9 ou mais dígitos só pra mostrar o resultado e dizer que não precisava de calculadora??
Me ensinou a ver as horas e a escrever antes que eu frequentasse a escola.
Mas eu entrei hoje pra contar uma história e fiquei contando outras...
Então vamos lá: meu pai me levava sempre para ver o cuco. É, um relógio cuco que ficava exposto numa loja que ficava numa ladeira da Penha, onde só haviam relojoarias e joalherias. Nós chegávamos e meu pai pedia pra acertarem o relógio (sim, porque pra quem não sabe, o cuco só aparece em hora cheia) só pra eu ver o cuco! Sinceramente, não sei porque eu gostava tanto, mas hoje vejo meu filho ter a mesma curiosidade, então acho que deve ser realmente especial ver o passarinho fake saindo por aquela porta e gritando CUCO, CUCO, CUCO!
Essa é com certeza uma das melhores recordações que guardo do meu pai, que virou estrelinha, como costumo explicar a morte pro meu filho.
Fui!

Relógio cuco (é o nome do passarinho fake)

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